12 de dezembro de 2008

Brasil, celeiro mundial.

Se o Brasil plantasse os 250 milhões de hectares de terras ociosas ou mal aproveitadas como pastagens degradadas, poderíamos produzir 1,225 bilhões de toneladas a mais de alimentos por ano, no valor de US$ 292 bilhões a valores de hoje e correspondente a 36,8% do PIB nacional. Isto sem mexer na Amazônia, Mata Atlântica e reservas, principalmente no Centro-Oeste e Nordeste. Isto representa 20% a mais do que a produção dos três maiores produtores de grãos do mundo - China, Estados Unidos e Índia, com 1,018 bilhões de tonelados/ano.

O agricultor é o herói anônimo que coloca hoje a semente no solo sem saber se amanhã terá preço ou produção. A começar por um produtor de Goiás que produz 2.500 hectares de feijão de alta tecnologia irrigada e alimenta 427 mil brasileiros. E sem ajuda do governo.

Com a falência das moedas e câmbios e diante da crise financeira, mudanças climáticas, novo paradigma do escambo à nossa porta e 80 milhões de novas bocas por ano no planeta, o Brasil se agiganta e candidata a celeiro do mundo. Nos fatores econômicos, com terra boa, capital e mão-de-obra; nos fatores produtivos, tecnologia, serviços e infra-estruturas; nos climáticos, água e radiação solar; nos sociais e históricos, 500 anos de boa tradição agropecuária.

Dos três maiores produtores de cereais do mundo, China e Índia com seus 2,4 bilhões de bocas, 36% da população mundial e 28,1% da produção, trabalham para consumo próprio. Os Estados Unidos é o segundo, com 304 milhões de bocas, 4,6% da população mundial, 18% da produção e apenas com 3% de população rural. Trabalha para o comércio interno e externo, como o Brasil.

Ao contrário dos outros países europeus e do hemisfério norte, o Brasil não tem neve, desertos, ciclones, guerras, altas montanhas e outros óbices a uma moderna e competente agricultura mecanizada de alto rendimento, com escala e capaz de gerar baixo custo de produção e menor preço de venda dos alimentos para si e para os outros povos irmãos.

O Brasil é hoje o produtor número um do mundo em café, laranja e cana de açúcar, o segundo em carnes, tabaco e soja e o terceiro em milho, que é o mais importante alimento mundial depois do arroz. Como se isto não bastasse, o nosso país de dimensões continentais está tirando alimento de terras outrora latifúndios improdutivos e terras devolutas do Mato Grosso - as cidades mato-grossenses de Sorrizo, Sapezal, Campo Novos dos Parecis, Nova Mutum e Campo Verde se transformaram em verdadeiros "oásis", cultivando 2,4 milhões de hectares e, assim, gerando renda, emprego e uma nova civilização no coração do Brasil. Tornaram-se lugares de respeito à cidadania onde não existe mendigo, fome ou desemprego, e sim muito trabalho para produção de bom e barato alimento para o cidadão das grandes capitais.

Ao contrário do que se pensa, a produção agropecuária brasileira em 2008 não é só de commodities com 145 milhões de toneladas de 14 cereais, leguminosas e oleaginosas do Prognóstico do IBGE, mas sim de outros produtos que chegam a 1 bilhão de toneladas, como as 620 milhões de toneladas de cana, as 2,7 milhões de toneladas de café e as 19 milhões de toneladas de laranja. Isto sem contar os hortifrutigranjeiros, a madeira colhida nos 5,6 milhões de hectares plantados no Brasil com Eucalipto e Pinus, além de extrativos e outros como ovos ou seda produzida por um inseto de nome Bombix mori. A pujança do setor primário do Brasil é bem maior do que se pensa e por isso o país pode se candidatar a celeiro do mundo.

Dentro deste cenário promissor de Brasil grande e bom produtor de alimentos para um mundo em conflito e transformações estruturais, o setor primário tem também problemas seculares. Entre eles, São Pedro que - queira ou não - é o dono do campo ao colocar e tirar chuva, radiação para a fotossíntese e temperatura na data e quantidade à sua maneira.

O outro inimigo implacável é o governo e pequena parte da sociedade urbana que ao longo dos séculos tratou o setor primário com desconhecimento, desprezo, indiferença e parasitismo, na figura lendária do Jeca Tatú, personagem imortalizado no livro Urupês, de Monteiro Lobato, na década de 1920. Um ser doente, miserável, ignorante e incapaz de produzir alimento, mesmo morando na terra.

Graças a muito suor do produtor brasileiro, e a partir de 1950, este cenário vem mudando, e conquistamos o respeito de todos ao entregar alimentos, tecidos e produtos industriais para a população, assim como a geração de divisas para tampar o rombo das aventuras financeiras dos outros países sobre a nossa economia e a nossa soberania.
Luiz Vicente Gentil - Professor Adjunto da Faculdade de Agronomia da UnB
FONTE: Jornal do Brasil

Um comentário:

  1. Grande Tofão, já andei me aventurando como produtor, pois eu e minha família temos 120 alqueires de uma boa terra no nordeste goiano. Além da produção pecuária, investimos em outras atividades como lavoura de sorgo, milho, cana, atividade leiteira e suinocultura. Se arrependimento matasse não estaria eu aqui na frente de meu laptop lhe escrevendo. Com recursos próprios, dei início a minha empreitada há três anos atrás, pois os recursos do fco e outros empréstimos só saem para quem quer comprar camionete ou apartamento. Nós, pelo contrário, torramos o dinheiro próprio equivalente a um apartamento e uma camioneta novos para aumentar a produção, mas descbri que enquanto o investimento sai a galope, o retorno vem a passos de tartaruga. Ficamos descapitalizados e ainda não saiu recursos do governo para investimento. Já desisti de tentar, fiz vários projetos de fco, fundo rural, mas os agentes não acreditam. Como disse, o dinheiro só sai para os amigos do rei, aqueles mesmos que usam os recursos para posar de rico, comprando apartamentos e camionetes.
    Enquanto isto vou vivendo a minha vidinha, esperando retorno talvez em trinta anos. Deveria ter seguido o conselhos dos mais velhos (tios, avós e primos) quando diziam para mim: "larga de besteira, não se gasta em fazenda! Quanto menos colocar, melhor!" e continuar engordando nelore de forma extensiva (uma res por hectare) e ficar quieto. Infelizmente, a busca por produtividade é perigosa com esta política injusta. Deveria ter especulado com o dindin que gastei, aplicado na bolsa, mas meu idealismo me prega peças!
    Grande abraço, amigo!

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