4 de março de 2009

Ecologizar, termo ainda não verbetado, com importância social e urbana.

Leia uma entrevista do AUTOR, Maurício Andrés Ribeiro desse verbete não encontrado nos dicionários ((verbetado) e com importância crucial para a SUSTENTABILIDADE.

O que é ecologizar?
Ecologizar é aplicar os conhecimentos das ciências ecológicas e a sabedoria da consciência ecológica às situações práticas da vida na sociedade e na cultura.

O que é ecologizar a cidade?
Ecologizar a cidade é cuidar de sua relação com o meio ambiente, o clima e a energia. O adequado planejamento ou gestão urbana, bem como o ecodesign de construções e das cidades podem contribuir muito para tornar nosso habitat mais sustentável. Nas cidades vive hoje mais da metade da população mundial e no Brasil essa proporção se acerca de 80%. As cidades exercem pressão sobre a capacidade de suporte do ambiente ao se abastecerem de água, materiais e construção, alimentos e energia. Estudar o ciclo de vida das construções e das cidades, desde a extração de materiais de construção, seu processamento, uso e descarte de resíduos é uma das formas de abordá-la do ponto de vista ecológico.

Qual a relação entre cidade e energia?
Grande parte da energia usada nas sociedades modernas destina-se à construção e operação dos assentamentos humanos, seja nas habitações ou nas cidades, com sua infra-estrutura e serviços. A cidade é, do ponto de vista energético, um ponto do espaço que importa certas formas de energia, as transforma e exporta de forma desagregada. Investimentos permanentes de energia são realizados na etapa de operação dos assentamentos humanos, durante sua vida útil: a cozinha, o aquecimento de água, a iluminação, a climatização de habitação, a secagem de roupas, a preservação de alimentos, o abastecimento de água, o transporte e a recreação, a comunicação por meio de computadores são algumas das atividades que consomem energia proveniente de várias fontes e que utilizam variados equipamentos ou instalações.

Quais os maiores gastos de energia em climas tropicais?
Como regra geral, os países de clima temperado gastam mais energia de manutenção, devido às exigências de calefação de casas nos invernos e também ao estilo de vida intensivo em energia de suas populações. Já nos países tropicais, quentes, os estilos de vida menos intensivos em energia e as condições climáticas favorecem a conservação de energia na operação dos assentamentos humanos. Por isso, nos países tropicais, têm importância especial os investimentos iniciais de energia na construção das edificações e dos assentamentos humanos.

Há exemplos de assentamentos humanos sustentáveis?
Se compararmos os sistemas de assentamentos humanos de acordo com sua escala, verificamos que na Ásia as redes de centenas de milhares de aldeias souberam se sustentar por milênios com baixa pressão sobre o ambiente, e com baixa pegada ecológica, ao passo que metrópoles são vorazes em consumir materiais e energia e tem uma forte pegada ecológica. O uso de fontes limpas e renováveis de energia e sua conservação tornam-se cruciais para reduzir os impactos ambientais e climáticos das cidades.

Como a arquitetura pode contribuir para reduzir emissões de gases de efeitos estufa?
Os relatórios do IPCC – painel intergovernamental de mudanças climáticas – mostraram que há um enorme potencial para reduzir emissões de gases de efeito estufa a partir do ambiente construído. Muito se pode fazer para as cidades serem ecologizadas, por meio da certificação de construções sustentáveis, de normas para a construção e para o urbanismo, por meio do planejamento de transportes e tráfego urbano; por meio do ecodesign de vários tipos. A ecologia urbana e a ecologia industrial são campos das ciências ecológicas com forte potencial para contribuir nessa tarefa.

Qual a motivação para editar o livro Ecologizando a cidade e o planeta?
No contexto da crise energética dos anos 70, Cláudio Martins e eu realizamos em parceria os livros “Uma Cidade se forma” e “Migrações de um arquiteto” . Ali abordamos os temas da demanda energética do ambiente construído e da necessidade de edifícios e cidades sustentáveis. Naquela ocasião o alto preço de energia motivou a busca de soluções arquitetônicas, construtivas e urbanas que levasse à economia de energia. Três décadas depois os temas ambientais, energéticos e climáticos retornaram com intensidade crescente. Assim, nesta edição completamos, atualizamos textos e fundimos o conteúdo daqueles dois livros num único, ECOLOGIZANDO a cidade e o planeta.

Como se estrutura o livro?
A primeira parte trata de temas locais e da ecologização das cidades, ecossistemas em que vive a maior parte de população mundial e brasileira. Aborda a pegada ecológica das cidades, que exercem pressão sobre a capacidade de suporte do ambiente ao se abastecerem de água, alimentos e energia. Trata da cidade e de sua relação com o meio ambiente, o clima e a energia. É realçado o tema crucial da água. Compara os sistemas de assentamentos humanos no ocidente e no oriente, com o estudo de caso de uma aldeia indiana e um município brasileiro. É reforçada a necessidade de usar fontes limpas e renováveis de energia e para conservá-la, a importância do ecodesign arquitetônico e urbanístico. A segunda parte aborda a ecologização do planeta, nossa casa maior. Estuda os assentamentos humanos a partir dos casos de dois pequenos países-ilha, um socialista, outro capitalista - Cuba e Japão - bem como dois grandes países tropicais, Índia e Brasil. Propõe a cidadania planetária, a economia ecológica e a ação ecologizada, já que o ser humano tornou-se gestor da evolução, nessa rápida e turbulenta transição do planeta para a era ecozóica. Estamos imersos numa crise da evolução similar em profundidade àquela que dizimou os dinossauros há 67 milhões de anos e cujos sinais mais evidentes são a extinção de espécies e as mudanças climáticas. A velocidade das transformações é crescente e tomamos consciência do impacto da atividade humana no clima e no ambiente, com as transformações de paisagens e de ecossistemas e a exploração e uso de energia.

A quem se destina o livro?
O livro se destina a gestores ambientais no setor público e privado, a arquitetos, urbanistas, engenheiros, bem como a estudantes dessas áreas.

O livro expõe, exemplifica e incita: permite uma reflexão sobre a finitude dos recursos naturais e lida com a noção de simplicidade das ações e dos seus desejos, já que extraímos muito, senão o bastante, da natureza.

(*) Autor dos livros Ecologizar; Tesouros da Índia; Ecologizando a cidade e o planeta

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